Após sucesso em São Paulo, chega ao Rio mostra com 300 fotos
tiradas entre 1883 a 2003 por nomes como
Augusto Stahl, Marc Ferrez, Thomas Farkas, J. Medeiros e Evandro Teixeira
Há cerca de três anos, o professor da USP Boris Kossoy e a
antropóloga Lilia Schwarcz receberam da Fundação Mapfre um desafio histórico:
contar 170 anos de Brasil — mais precisamente entre 1833 e 2003 através de
registros fotográficos. Ciente do gigantismo da proposta, a dupla montou uma
equipe de trabalho e passou a vasculhar acervos públicos e privados de todo o
país. “Fomos de Belém a Curitiba”, dizem eles, que ainda acharam que era pouco.
Resolveram cruzaram o oceano atrás de fotos feitas, por exemplo, por Augusto
Stahl (1828-1877) no Brasil do século XIX.
No percurso, acharam pérolas. Entre elas, o clique de
Evandro Teixeira à direita — uma das imagens preferidas de Lilia em toda a
pesquisa.
Essa imagem, chamada “Ação militar no Centro do Rio”, é de
1964 e comprova que a realidade é bem melhor do que a ficção — diz ela.
O resultado da pesquisa de Kossoy e Lilia poderá ser visto a
partir de amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Batizada como “Um
olhar sobre o Brasil. A fotografia na construção da imagem da nação”, a amostra
chega ao Rio depois de ter levado cerca de 70 mil pessoas ao Instituto Tomie
Ohtake em São Paulo e ficará por aqui até abril.
A proposta é abrangente seja por sua diversidade temática
seja pelo período histórico que abarca ou pela multidisciplinaridade em que se
desenrola a narrativa — afirma Kossoy, acertando os últimos preparativos para a
abertura. — O que, de fato, importa é o impacto ou identificação que certas
imagens causam aos diferentes espectadores.
Dividida em sete períodos, a exposição percorre os períodos
históricos segundo eixos temáticos: política, sociedade, artes e cultura, e
paisagem. Começa lembrando o visitante que, nos primórdios da fotografia no
Brasil, ela estava imbuída de um “olhar científico”. Servia, por exemplo, para
registrar expedições estrangeiras como a que o francês Antoine Hercule Romuald
Florence fez na vila de São Carlos (Campinas) em 1833. Nessa seção, os
curadores lembram a quantidade de fotógrafos que cruzaram o país no século XIX
para conhecer a fundo o Império.
Chegada do dirigível Hindenburg no Rio de Janeiro, em 1936. |
Mais à frente, a mostra revela o interesse de D. Pedro II
pelo assunto. Há imagens da Guerra de Canudos e de outras revoltas do século
XIX, além de cliques que revelam o cotidiano das famílias da elite de então. No
mesmo espaço, ainda aparecem os retratos de estúdio, com cenas posadas. É a vez
de Stahl e os escravos como na imagem oval que também ilustra esta matéria.
Entrando pelo século XX, a fotografia pula para as páginas
dos jornais e acompanha movimentos como a participação da Força Expedicionária
Brasileira na Segunda Guerra Mundial, a construção de Brasília, as Diretas Já e
a atuação de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Leonel
Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma imagem, uma história
Em “Um olhar sobre o Brasil”, cada foto é acompanhada por um
texto que narra sua história e dá ao visitante subsídios para se aprofundar nas
tradições sociais e culturais da época. Com isso, o passeio pode durar até
quatro horas.
Por trás de cada imagem há uma história a ser desvendada e
considerada — ressalta Kossoy. — Passamos a “ver” certos fatos e situações
segundo o olhar do fotógrafo, que, por vezes, é um independente, por vezes,
dirigido.
Assumimos uma tarefa gigante quando nos propusemos a
contar 170 anos de Brasil. A foto entrou aqui relativamente cedo, e sabemos que
o total de registros feitos no país nesse período é quase duas vezes maior do
que os de Chile e Argentina — diz Lilia. — O Brasil é imenso, e as fotos
refletem sua diversidade.
Por isso é que batizamos a exposição como sendo “um”
olhar sobre o Brasil. Não é o definitivo.
Fonte: Globo.com
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